sábado, 10 de setembro de 2011

AUTO RETRATO ALHEIO Capítulo 2

Minha terapeuta pediu que eu fizesse uma lista de coisas que eu gosto e uma de que não gosto.
Enquanto ela fala comigo, não consigo pensar em nada além do estilo menininha que ela usa aos 50 anos. Tudo rosa e branco com sapatos cor da pele. O rosa demonstra o apego ao mundo infantil, o branco e o bege, mostram falta de opinião firme, a neutralidade para não desagradar e nem agradar. Um dia o celular dela tocou durante a sessão uma musiquinha ridícula, estilo pop sucesso de rádio popular! Pra completar ela tem uma vozinha doce, carinhosa e muito fina, como se as cordas vocais não tivessem amadurecido.
A primeira coisa que coloco na lista das coisas que não gosto é: terapia com você, imbecil. Vai ser muito divertido quando ela ler pra discutir em grupo semana que vem. Provavelmente ela vai dizer: “Ayana, querida vamos direcionar essa raiva pra um lugar seguro, que não machuque ninguém?  Eu respondo então: Sim querida, vamos enfia-la no.....Não confundam essa observação com superficialidade, isso é cinética.
A segunda coisa da minha lista é: evangélicos em geral e padres. São como palhaços que escondem a verdade atras de uma máscara. Ainda por cima todos usam uma máscara igual, copiada, sem originalidade nenhuma. A maioria deles...bom pode ser que haja alguém por ai diferente, eu não conheço.
Se eu não quisesse ofender minha terapeuta teria colocado em primeiro lugar: aglomerado de pessoas, como o centro da cidade, a 25 de março, shopping Center, shows, bares, cinemas. Quando eu era criança escolhi um estilo de me vestir que nunca desse trabalho na vida toda, servisse em todas as ocasiões , que independesse da moda e que não me deixasse com cara de idiota infantil:  Sem vestido, sem sandália, sem brincos que combinem,sem salto. O mais confortável possível, sem encheção de saco, sem cabelão que exija muito cuidado, sem unha colorida. Tenho um sabonete, um hidratante, um shamppu.e um desodorante. Não gosto desses assuntos, esses detalhes da vida que fazem  com que as pessoas fiquem  vazias e superficiais. Chega uma hora que esse tipo de assunto toma proporções inimagináveis. Escolhi até a loja certa em que compro toda minha roupa, pra não ter que andar por aí. Quando rasga uma calça, reponho, e assim por diante.
Outra coisa que detesto mesmo é mal gosto musical e literário.
Atendentes em geral. Garçons nunca, nunca, nunca acertam meu pedido. O cozinheiro nunca manda a carne no ponto certo( e quando manda o Alexandre coloca alho)
Pequeno detalhe que não mencionei sobre mim: sou médica. Clinica geral.
Claro que não matei o Alexandre só por causa do alho na picanha. Aquele ato foi a gota d’agua.
Eu já estava com raiva dele por um milhão quatrocentos e quarenta e nove motivos consecutivos. Ele foi consumindo meu curtíssimo pavil  aos poucos. Mentindo sobre coisas bobas . Sabe o cara que diz que nunca tem dinheiro,, pra você nunca achar que pode contar com ele pra alguma coisa importante, tipo, o seu enterro? Ou comprar um apartamento pra sair da casa da mãe porque a mãe é conveniente pra quem não pensa em morar com você nunca. Mesmo que você nunca tenha pedido nem o dinheiro do enterro, nem pra morar junto.
Morava  com a mãe, era advogado e ganhava bem, andava de carro importado, viajava com a mãe pra  Disney, comia em restaurantes bons, se vestia bem,  jogava golfe, e chorava miséria!!! E o pior de tudo, pra mim, que não estava querendo nada.
Ele também finge que não entende e que esquece as coisas que convém.
Um dos três grandes males que afligem a humanidade é a superficialidade. Há várias manifestações comportamentais em nossa e em outras culturas. As que mais me incomoda porque são as mais presentes: A busca por padrões de beleza impostos pela sociedade de consumo. A busca por prazer sexual egoísta, aquela em que não é considerada a alma, os sentimentos alheios. As pessoas escolhem um corpo físico de formato anatômico sexualmente ultilizável  (geralmente os padrões de beleza pré estabelecidos pela sociedade em que vivem). Pode ser recíproco como acontece com muitas pessoas que acabaram de se conhecer em baladas, bares, etc...(no caso há um acordo silencioso que expressa” Você usa o meu corpo físico como uma boneca inflável, eu uso o seu da mesma forma. Quando saciarmos nossas necessidades primitivas de reprodução, fingimos que nunca nos vimos”), e há a pior das manifestações de egoísmo  e superficialidade que há no mundo: o uso do corpo físico mediante pagamento ou utilzação de força bruta. Para mim, estuprar e praticar sexo com prostitutas é a mesma coisa. Em ambos os casos ignora-se totalmente os sentimentos alheios em prol do prazer físico. Porque é obvio que a prostituta esta odiando aquilo, não vê a hora que termine. Faz coisas por obrigação porque está sendo forçada a isso como no estupro, só que o que a obriga nesse caso é ela mesma impulsionada pelo desejo de possuir dinheiro.
O Alexandre professava a mesma opinião que eu, e fazia uso de prostitutas escondido.
Se ele estivesse aqui agora  eu furaria o olho dele com  esta caneta.
Reunião em família no natal, no ano novo e na páscoa com beijinhos e abracinhos. Se existir mesmo um inferno ele será assim todos os dias da eternidade e com uma tela grande de TV sempre passando Criança Esperança.
As coisas que eu gosto são: comer, dormir, fazer sexo, e trabalhar.
Aqui estou comendo e dormindo.
Perdi minha licença para clinicar.
O que um médico faz quando não pode mais exercer sua função?


Continua.....






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