quarta-feira, 7 de setembro de 2011

AUTO RETRATO ALHEIO Capítulo 1

AUTO RETRATO ALHEIO
Um romance quase sem amor, de ficção, mas  totalmente real,  escrito por Janaina Rodrigues.

Há três grandes males que afligem a humanidade e que vão dizima-la  neste tão cheio de promessas século 21:  A superficialidade , a obesidade e a depressão.
Meu nome é Ayana. Tenho 26 anos,,  e moro há dois anos em um hospital psiquiátrico no intrerior de São Paulo,
       Todas as vezes que eu falo meu nome lembro de Shakspeare e sua famosa frase da rosa;”não importa o nome da rosa, ela vai ser sempre uma rosa e num sei que, num sei que ela do seu seu perfume”
Todas as vezes que eu falo onde estou morando espero um certo olhar de dó, ou curiosidade.
Ultimamente não tenho conversado com ninguém novo.
Vou dizer logo o que eu fiz pra não criar suspense porque afinal não quero causar essa espécie de mal estar em ninguém. Odeio aqueles programas de TV em que a apresentadora  fica prometendo contar um segredo cabeludo sempre depois dos comerciais. Se eu pudesse pularia no pescoço dela num acesso de raiva e cortaria o pescoço com uma faca de carne , igualzinho eu fiz com meu namorado num restaurante público, lotado, em plena hora do almoço. Ele colocou alho frito na minha  picanha argentina! Nem era a picanha dele, era a minha e ele sabia o quanto eu odeio alho, especialmente na picanha, e ainda mais argentina e mal passada!
Quando eu era adolescente, li todos grandes autores, a princípio para agradar e ficar por dentro no grupo social de nerds que eu vivia, depois por gosto mesmo. Era um crime inafiançável não ler Fernando pessoa e James Joyce!! Até hoje eu minto que li James Joyce, Ulisses. Acho que todo mundo mente que leu Ulisses. Impossivel, acho que o autor estava possuído quando escreveu 800 páginas que falam sobre um dia na vida de um homem.
Quando eu vim pra ca por ordem judicial, ficava em cela especial, sozinha.Agora já posso andar no jardim e ficar na sala assistindo TV com os outros internos. O Jardim daqui é lindo, muito tranqüilo. Eu sempre dizia que se um dia fosse parar no hospício, que ia aproveitar a vida e andar pelada o dia todo,( afinal todo  mundo já fala que eu sou louca mesmo). Mas não fiz isso ainda, acho que percebi que não tenho vontade real de ficar pelada por aí e mesmo que eu quisesse os enfermeiros não iam deixar.Bom provavelmente eu conseguiria andar nua por ai uns 10 min até alguém me pegar.
Um conselho pra quem deseja andar pelado por aí: Não espere ir para um hospital psiquiátrico! Ande nu na Paulista, no seu bairro, na sua escola. Vai curtir mais tempo!
Todo adolescente quer ser bem aceito, bonito, inteligente, um líder.
Eu sempre fui bonita e inteligente. Algumas vezes líder. Mas me sentia uma idiota sempre.
Sabe aquela sensação de que ninguém gosta de você, que  tudo que você fala é bobagem, apesar dos fatos desmentirem.
Não gosto de falar mal de mim, afinal ao menos eu tenho que estar ao meu lado, me dar apoio e acreditar em mim, me dar carinho atenção e muitas vezes, sexo. O sexo consigo mesmo é um ato de amor homosexual.
Fui classificada e rotulada como sociopata.
Há muitos rótulos em nossa sociedade. As pessoas adoram organizar o mundo de maneira simples, para que todos possam entender. Imagine um supermercado de seres humanos, onde você iria comprar um amigo? Na seção de vagabundas, Piranhas e Prostitutas em geral, na seção de Pessoas de bem com a vida Sempre,  Ladrões, estelionatários, pilantras e afins, Bonitos,  Gordos, Cafagestes, Loucos em geral, Nerds, Drogados, Tímidos. Caramba, imagine quantas devoluções!!!! Porque não da simplesmente para simplificar o ser humano como uma coisa ou outra. Aí as pessoas voltariam pra reclamar assim: “Senhor, por favor pode me trocar esse tímido, porque ele na verdade é cafageste e ladrão?”


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